A história do CEIFAC, como todas as boas histórias, começa assim: “era uma vez…”, em Outubro de 2002, um pequeno grupo de casais de Coimbra com uma já larga vivência no campo dos projetos de auxílio social, para os quais o leque de soluções existentes, designadamente no campo do apoio aos pais e à família – elementos-base e plataformas essenciais da estrutura social de uma sociedade que se queira coesa, dinâmica e sadia – carecia de ser alargado a outro tipo de intervenção e de respostas, criou, por sua própria iniciativa e impulso, o CEIFAC – Centro Integrado de Apoio Familiar de Coimbra.

O CEIFAC apresenta-se, assim, como uma associação privada sem fins lucrativos, de âmbito nacional, que visa a promoção e a realização de atividades na área do apoio aos indivíduos e suas famílias, respondendo a apelos individuais, familiares ou institucionais, na base de um relacionamento privilegiado com associações e outras entidades, não só do concelho de Coimbra, como de outros locais, sempre numa lógica de trabalho em rede e de articulação interinstitucional, tendo, fundamentalmente, como população-alvo, famílias ou indivíduos vulneráveis (v.g., desemprego, isolamento social, emigração).

Em 2003, o CEIFAC criou o Gabinete de Apoio Familiar de Coimbra – um serviço de referência no apoio terapêutico a famílias/indivíduos que se encontrem em situação de vulnerabilidade.

Este espaço, que trabalha com base em intervenções familiares sistémicas, permite que as famílias/indivíduos se sintam apoiados na (sua) necessidade de encontrar soluções para as suas dificuldades relacionais/comportamentais, proporcionando serviços especializados nas áreas da terapia familiar, da terapia de casal e da terapia individual, com recurso a uma equipa de profissionais com formação específica na área da psicologia clínica e da intervenção familiar sistémica, e contando com a supervisão científica e clínica de docentes da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e membros da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, assim garantindo a qualidade e rigor do trabalho desenvolvido em prol das famílias.

Na sua maioria, estas intervenções são efetuadas por indicação das CPCJ [Comissões de Proteção de Crianças e Jovens], nomeadamente de Coimbra, bem como de diversos tribunais judiciais, em especial, o Tribunal de Família e Menores de Coimbra. O gabinete atende ainda os pedidos de consulta e apoio que lhe sejam diretamente dirigidos por famílias e/ou pessoas.

Assim sendo, o pedido de consulta dirigido por familias e/ou pessoas, é realizado através do contacto telefónico para preenchimento da ficha de pedido de consulta, que permitirá elaborar as primeiras 5 hipóteses sistémicas.

Quanto às famílias mandatadas, é importante referir que a intervenção está dependente de um pedido inicial feito pelo tribunal que é posteriormente analisado pela equipa terapêutica, avaliando a sua adequação à forma de intervenção psicoterapêutica e pressupostos teóricos que regem o CEIFAC.

Para além disto, é de salientar que é proposto às famílias um contrato terapêutico, onde se identificam os objetivos que orientarão a intervenção, objetivos estes que serão co-construídos com a família. O número das sessões varia consoante os desafios e os recursos identificados no sistema familiar.

Em todos os processos de acompanhamento psicoterapêutico realizados no CEIFAC, a equipa terapêutica constitui-se por dois/duas terapeutas responsáveis pelo processo terapêutico, assim como outros/outras terapeutas observadores/as, por se acreditar e se privilegiar as visões múltiplas, pois pessoas diferentes veem coisas diferentes.

No âmbito da formação parental e familiar, o CEIFAC realizou já diversas acções, todas elas tendo por base o “Programa para o Fortalecimento de Famílias”, versão portuguesa do Strengthening Families Program, da autoria da Professora Karol Kumpfer, da Universidade de Utah, programa este que visa o desenvolvimento e valorização de competências parentais, sociais e pessoais, e o aumento da resiliência e redução da influência dos fatores de risco por consumos. Importa referir que este programa é reconhecido pelo NIDA (National Institute on Drug Abuse) como o programa mais eficaz na área da prevenção em meio familiar.

O CEIFAC, entidade certificada para aplicar este programa, editou os Manuais para Pais, Filhos e Educadores, aquando da aplicação do Programa, pela primeira vez, em Portugal.

A Multiculturoteca é uma acção que visa desenvolver, junto das escolas, diversas atividades que têm como objetivo a transmissão de valores, nomeadamente os da inclusão social, com enfoque no desenvolvimento da consciência cívica das crianças e jovens, elemento fundamental no processo de formação de cidadãos responsáveis, críticos, ativos e intervenientes na comunidade.

As atividades desenvolvidas, quer através da análise de textos (contos, fábulas e lendas) que transmitam mensagens de respeito pela diferença, explorando a dimensão da multiculturalidade, quer através da realização de atividades experimentais e de sensibilização direcionadas para problemáticas emergentes com que a nossa sociedade se debate atualmente, têm como objetivo central alertar e sensibilizar as crianças, dotando-as de referências que lhes permitam desenvolver comportamentos conscientes.

A avaliação efetuada pela comunidade escolar tem sido muito positiva considerando que o conjunto de ações levadas a cabo contribuíram para uma melhor socialização/integração dos alunos, permitiram a valorização e partilha das suas culturas num ambiente de respeito pelo outro, facilitando a superação de algumas das suas dificuldades.

Nos últimos anos, a Multiculturoteca tem decorrido em escolas de Coimbra, abrangendo um universo de 150 alunos. Prevê-se que esta iniciativa possa ser estendida ao Agrupamento de Escolas da Lousã, em b-learning.

No quadro da promoção da empregabilidade o CEIFAC desenvolveu e mantém em atividade o projeto “Sabão com Arte”, uma Iniciativa de Inovação e Empreendedorismo Social (IIES), de cariz experimental e inovador, tendo como missão central a capacitação de jovens, em situação de grande vulnerabilidade, favorecendo a sua empregabilidade e a autonomia financeira.

O “Sabão com Arte” visa não só capacitar para a empregabilidade como, adicionalmente, pretende criar postos de trabalho para estes jovens desfavorecidos, através de uma unidade de fabrico e comercialização de sabonetes. Aí são preparados sabonetes com recurso a métodos tradicionais, procurando-se recuperar a tradição do fabrico de sabão na cidade de Coimbra, atividade industrial que nela assumiu dimensão e relevância económicas entre os meados do século XIX e finais do século XX.

Com esta iniciativa social pretende-se permitir que jovens provindos de meios desfavorecidos adquiram ou potenciem as suas aptidões profissionais, tendo em vista incrementar as suas condições de empregabilidade e de exercício de uma profissão. As receitas (excedentes) geradas pelo negócio são nele totalmente reinvestidas, de modo a fomentar a sua (auto)sustentabilidade bem como o alargamento dos postos de trabalho como ferramenta para integração de mais jovens.

Instalada na velha Couraça dos Apóstolos, no coração da Alta de Coimbra, Património Mundial da UNESCO, em instalações atuais, especificamente preparadas para o efeito e devidamente apetrechadas, a Saboaria de Coimbra – que produz Sabão com Arte – ao desenvolver atividade de apoio social cumpre simultaneamente uma missão histórico-cultural ao recuperar e recriar uma antiga receita de sabão, tirada da primeira edição do Codigo Pharmaceutico Lusitano ou Tratado de Pharmaconomia, publicado em Coimbra em 1835.

Nesta produção, a Saboaria de Coimbra observa todas as atuais exigências e requisitos técnico-legais, nacionais e europeus, em matéria de produção de dermocosméticos, respeitando os atuais padrões no que toca à produção de sabonetes de óleos naturais (amêndoas doces e dentro em breve, de azeite), produzindo sabonetes com a atenção, cuidado e carinho tributários das melhores práticas dos velhos artesões saboeiros de Coimbra. As embalagens destes sabonetes podem, ainda, ser personalizadas, pelo que são igualmente adequados para oferta ou recordação.

Os jovens que frequentem esta intervenção social, podem usufruir de um Plano de Capacitação dinâmico e inovador, adaptado às suas necessidades e que evolui paralelamente com a evolução dos destinatários. Trata-se de um Plano de Capacitação que prevê atividades com conteúdos que proporcionem uma nova “dinâmica de «ensinar a pensar fora da caixa», com atividades a condizer”.

Falamos de aulas de representação/teatro, padel, bootcamps, master classes com gestores de empresas e empreendedores bem-sucedidos bem como contacto com especialistas em áreas muito específicas; mas também de um adequado desenvolvimento de soft skills potenciadoras de uma melhor inserção profissional no mercado de trabalho. Entre os temas a trabalhar por especialistas e coachers estão, por exemplo, o relacionamento interpessoal, a ética, a empatia, a criatividade, saber ouvir, gerir a diversidade ou criar alianças e redes.

Não só pelos conteúdos, como também pelas características funcionais das instalações do Sabão com Arte esta solução apresenta uma componente social muito significativa, na medida em que, através da disponibilização de um relevante acervo de conhecimentos teóricos e de uma experienciação pessoal em contexto de trabalho, proporcionam-se aos destinatários ferramentas que visam permitir-lhes aceder a mais oportunidades a nível laboral, pela vivência e experienciação em contexto real de trabalho.

Por outro lado, na medida em que a nossa IIES revisitará uma prática artesanal tradicional da cidade de Coimbra, mas esquecida por muitos, diferencia-se de soluções similares de integração de público desfavorecido no mercado de trabalho, na medida em que, ao mesmo tempo que realiza este objetivo, leva a que novas gerações, que constituirão o presente e o futuro da cidade de Coimbra e do país, travem conhecimento com artes e com práticas de fabricação de produtos – no caso o sabão – que, a não ser assim, haveriam de cair no absoluto esquecimento, irremediavelmente perdidas.

Numa outra linha de ação, esta financiada pelo Programa Operacional para o Potencial Humano (POPH) [Eixo Prioritário 6 – Cidadania, Inclusão e Desenvolvimento Social, Tipologia de Intervenção 6.1 – Formação para a Inclusão], o CEIFAC realizou cursos de formação de “Operador(a) de Armazenagem” e de “Operador(a) de Jardinagem/Agricultura Biológica”, cujo público-alvo foram pessoas em risco de exclusão social.

• Cursos de Operador/a de Jardinagem/Agricultura Biológica, (2012-2014), no âmbito da “Formação para a Inclusão”, com aprovação e financiamento do POPH – Programa Operacional Potencial Humano, tendo como principal objetivo o desenvolvimento de condições de maior equidade social no acesso aos direitos de participação cívica, qualificação e educação, numa perspetiva interventiva de combate à pobreza e exclusão social.

Visando uma aprendizagem mais acurada e performativa, esta cooperação com a Santa Casa da Misericórdia de Coimbra permitiu a utilização do espaço da Cerca de Santo Agostinho, na Alta da cidade de Coimbra, como terreno experimental, onde se procedeu ao desenvolvimento intensivo da componente prática do curso.

A aplicação dos conhecimentos teóricos, então levada a cabo, está patente na criação de uma horta-jardim que se encontra a produzir produtos hortícolas e frutícolas utilizados pelos utentes da Santa Casa.

O CEIFAC desenvolveu também projetos de intervenção social relacionados com a temática da intergeracionalidade, visando neles envolver, direta e/ou indiretamente, todas as gerações de uma família.

Os projetos InterAGE (2012) e REALidades (2013), financiados através do Apoio Financeiro do Estado às Associações de Famílias (AFEAF), são exemplos dessa promoção das relações intergeracionais tendo na sua base, e essencialmente, como participantes pessoas idosas e jovens universitários.

• O projeto InterAGE (2011), projeto intergeracional inovador, visava promover a interação entre duas gerações, jovens universitários e idosos do Centro de Apoio à Terceira Idade da Santa Casa, recorrendo à partilha de histórias pessoais, às tecnologias audiovisuais e aos jogos multimédia.

Para além da promoção da aproximação entre jovens e idosos, a sensibilização dos mais novos para a visão do envelhecimento como um processo natural, de modo a valorizarem as experiências de vida, valores e princípios transmitidos pelos mais velhos e fomentarem o bem-estar dos idosos ajudando-os a sentirem-se úteis através da colaboração com os mais jovens, foram alguns dos objetivos deste projeto.

O projeto culminou com uma reportagem sobe o decurso de todo o projeto (making of) retratando os episódios relatados da vida dos idosos (quadros, álbuns, esculturas, etc.), entregue em formato digital (DVD) a todos os participantes.

• A iniciativa intergeracional do projeto REALidades, (2013 e 2014), visou fomentar o contacto e a proximidade entre 12 jovens universitários e 12 pessoas idosas residentes na Alta de Coimbra, agrupados em 12 pares (um jovem e um idoso).

Este Projeto utilizou uma metodologia inovadora – o Photovoice – consistindo num instrumento de recolha de dados que utiliza a fotografia e a voz dos participantes para encorajar a partilha de experiências e a reflexão crítica.

Ao longo do Projeto, os participantes capturaram imagens, contaram histórias, saberes e experiências de vida, refletindo em conjunto sobre aspetos importantes da sua experiência individual, familiar e comunitária na Alta de Coimbra, um espaço onde se cruzam diariamente.

O projeto culminou numa sessão realizada no salão Nobre da Santa Casa da Misericórdia e numa exposição “Alta de Coimbra, quem te viu e quem te vê” realizada nos Claustros do Colégio de Santo Agostinho ou Colégio Novo (Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra). A inauguração da exposição contou com a participação de diversas entidades, profissionais da intervenção social e da educação, bem como múltiplos cidadãos da comunidade interessados no projeto.

A disseminação dos resultados do projeto prosseguiu através da realização de exposições itinerantes em diferentes locais da cidade, designadamente numa “República” (a República do Prakistão, uma das mais tradicionais e antigas repúblicas de estudantes de Coimbra) e nas instalações do Ateneu de Coimbra. Também o Instituto Português do Desporto e Juventude, l.P. acolheu a exposição “Alta de Coimbra, quem te viu e quem te vê” na sua galeria de exposições de Coimbra.

O reconhecimento e a pertinência do REALidades, não se esgotou na conclusão das atividades finais. O alcance do projeto foi bastante significativo e teve um forte impacto na comunidade, tendo superado as expectativas projetadas. Nos anos seguintes os jovens universitários continuaram a contactar os idosos e fomos convidados a partilhar esta experiência em iniciativas de diversas entidades como: a COOL COOP, no Seminário “Intergeracionalidade: cruzando caminhos, criando afetos!”, no Palácio de Valenças, em Sintra; a Universidade Intergeracional (Chapitô-Trupe Sénior) no âmbito do projeto Virtuosidades – BIPZIP, em Lisboa; e o Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho no âmbito do 4.º seminário: Qualidade de vida, políticas, instrumentos e práticas, entre outras.

O CEIFAC continua, ainda hoje, a ser contactado para partilhar esta iniciativa intergeracional.